segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Guimarães Rosa - Manuelzão e Miguilim


RESUMO

Manuelzão e Muguilim, assim como as obras No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do Sertão, inicialmente era parte integrante do livro Corpo de Baile, publicado em 1956.
Compõem a obra duas novelas: “Campo Geral” e “Uma Estória de Amor”.

CAMPO GERAL
Esta novela tem como personagem principal Miguilim, um garoto de oito anos que morava na mata do Mutum com a família.
Dos irmãos, Miguilim era o mais velho. Depois vinha Dito, irmão que tinha a maturidade de um adulto e fazia reflexões sobre as coisas da vida. Para tristeza de todos, acabou morrendo de tétano.
Tomé era o irmão caçula. Havia ainda as irmãs Drelina e Chica e Liovaldo, o mais velho, que morava com o tio Osmundo.
O pai de Miguilim era Nhô Bernardo Caz, que nutria grande ciúme pela esposa, devido à traição com o tio Terêz, que é expulso de casa.
Além de tio Terêz, a mãe tem um caso com Luisaltino, trabalhador da lavoura, assim como o pai. Este, louco de ciúme, mata Luisaltino e enforca-se. Posteriormente, tio Terêz casa-se com a mãe e volta a morar com a família.
Outra personagem que se destaca é a vovó Izidra, magra e que se irrita com tudo.
Miguilim preocupava-se com seu estado de saúde. Achava que ia morrer, pois estava muito magro.
No entanto, ele não morre, mas tem uma revelação que transforma sua vida. Um dia o doutor José Lourenço vem na Vereda do Tipã e põe óculos no menino, percebendo sua dificuldade para enxergar. Ele, então, passa a ver todas as coisas com mais nitidez e encontrar beleza no Mutum, em cada elemento da natureza, em cada pessoa. Descoberta sua miopia, Miguilim descobre-se a si mesmo e admira a grandeza do mundo e sua própria existência.

UMA ESTÓRIA DE AMOR
Novela narrada em terceira pessoa, Uma Estória de Amor tem como protagonista Manuel Jesus Rodrigues, o Manuelzão, administrador de fazenda de gado Samarra. Este velho vaqueiro vivia de um lugar para outro, conduzindo boiada, vindo a fixar-se num só lugar apenas no final da vida.
O personagem realiza uma festa de inauguração de uma capelinha construída a fim de homenagear sua mãe. São mostrados os preparativos, os sertanejos advindos de várias regiões, a chegada do padre e a festa.
A novela valoriza a tradição oral, misturando casos e questionamentos metafísicos, como a busca de Manuelzão pela razão de sua existência.
Várias histórias se intercalam, muitas delas remetendo ao folclore sertanejo.
Manuelzão, aos sessenta anos, vai em busca de seu filho, Adeiço, que se casara e vivia do trabalho na lavoura, ao lado de sua família, diferentemente do pai, mas de modo semelhante ao avô, para desgosto do primeiro.
No final da novela, Manuelzão está prestes a conduzir mais uma boiada, carregando consigo apenas as lembranças da festa e de suas próprias experiências.

In: Manual de literatura: literatura brasileira, literatura portuguesa. LEDO, Teresinha de Oliveira. São Paulo. DCL.2001.Pg.309-311.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vanguarda Europeia

FUTURISMO
Tendência que mais influenciou a primeira fase do Modernismo. Propunha:
- liberdade de expressão;
- destruição da sintaxe;
- abolição da pontuação;
- uso de símbolos matemáticos e musicais;
- desprezo ao adjetivo e ao advérbio.
Surgiu em 1909, com Marinetti.

EXPRESSIONISMO
Manifestação dos povos nórdicos, germânicos e eslavos. Voltou-se para os produtos artísticos dos primitivos e para as manifestações do mundo interior, expressas no uso aleatório de cores intensas e distorções de formas. Surgiu em em 1911.
Influenciou sobretudo os quadros de Anita Malfatti.

CUBISMO
Segundo essa tendência, as figuras, reduzidas a formas geométricas, apresenta,, ao mesmo tempo, o perfil e a frente, mostrando mais de um ângulo de visão. Nasceu em 1907, com Picasso.
A literatura cubista preocupou-se com a construção física do texto, originando o Concretismo da década de 50.

DADAÍSMO
Negava o presente, o passado, o futuro, e defendia a ideia de que qualquer combinação inusitada promove um efeito estético. Surgiu em 1916, com Tristan Tzara.

SURREALISMO
Caracterizou-se pela busca do homem primitivo através da investigação do mundo do inconsciente e dos sonhos. Esse movimento originou-se em 1924, com André Breton.
Na literatura, o traço fundamental foi a escrita automática. Salvador Dali destacou-se entre os principais surrealistas europeus.

Gêneros Literários - RESUMO

LÍRICO Revelação subjetiva de uma exposição dos sentimentos humanos, como alegria, tristeza, amor, inquietação, fatalidade.
exs: soneto - hino - ode - elegia - epitalâmio - idílio - égloga - sátira
NARRATIVO Mundo exterior e das relações do homem com este mundo. Gênero mais objetivo, com predominância de um narrador que conta um fato, num ambiente dotado de elementos como: tempo, espaço, personagem, ação.
exs: conto - romance - novela - crônica
DRAMÁTICO Personagens falam diretamente, expondo dramas e conflitos. O texto dramático é feito para encenação teatral, isto é, é representado por atores que encarnam personagens.
exs: tragédia - comédia - tragicomédia - drama - farsa - auto

MODERNISMO: Primeira fase

(1922 - 1930)

Também chamada de "heróica", foi a que mais combateu a tradição; marcou-se por intensa produção em poesia, cujas principais características foram:

a) utilização do verso livre;
b) procura de uma língua "brasileira", privilegiando por isso a linguagem coloquial;
c) uso de linguagem telegráfica, condensada;
d) ausência de pontuação;
e) valorização do cotidiano;
f ) uso de paródias com sentido de dessacralizar a tradição;
g) uso do humor (poema-piada);
h) criação de neologismos;
i ) aproximação da linguagem da prosa.

MODERNISMO: Segunda Fase

(1930 - 1945)

Contexto Histórico:
- quebra da Bolsa de Nova York (1929);
- estados facistas (Alemanha, Itália, Espanha e Portugal);
- Revolução de 30;
- Estado Novo (ditadura Vargas).

Características:
Poesia
- aproveitou e amadureceu as propostas de 22, eliminando exageros e gratuidades;
- reabilitou algumas formas tradicionais, como o soneto e o verso rimado;
- temática politizada, sem afastar-se das temáticas espirituais e de introspecção.

Prosa
- a "era do romance brasileiro";
- romance regionalista, com um escritor engajado, crítico das relações sociais;
- romance urbano.




MODERNISMO: Terceira fase

(de 1945 até os dias atuais)

Contexto histórico:
a) no mundo - início da Guerra Fria;
- conflitos localizados em todo o mundo.

b) no Brasil - deposição de Vargas (1945);
- início da redemocratização;
- implantação e incentivo às indústrias automobilística, siderúrgica e mecânica.

Características:
Prosa
- regionalismo (Guimarães Rosa);
- sondagem psicológica (Clarice Lispector);
- tendências atuais = prosa política, urbana, intimista, memorialista.

Poesia
- geração de 45 = neoparnasianos;
- tendências atuais = concretismo, poesia/processo, poesia práxis;
- poesia social;
- poesia marginal.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Literatura Latina

Entre os numerosos escravos gregos levados a Roma estava Lívio Andrônico, nascido em Taranto por volta de 280 a.C. Sua condição não impediu de ser o iniciador da literatura latina. Foi encarregado de traduzir a Odisseia para o Latim e escreveu as primeiras peças dramáticas nessa língua. O Latim foi a língua literária que predominou como idioma oficial da Igreja Católica e se manteve com o humanismo até o século XVIII.

DO GREGO AO LATIM
Ainda que nascido na Calábria, ao sul de Roma, Quinto Ênio obteve a cidadania romana em 184 a.C. Chegou à capital do Império como soldado, mas logo começou a dar aulas de Grego e adaptou obras dramáticas. Escreveu tragédias, comédias, sátiras e poemas, mas a história o recorda por seus Anais, 18 livros que exaltam a grandeza de Roma e suas conquistas ano por ano, um longo poema em versos hexâmetros adaptados do grego para o Latim.

O COMEDIÓGRAFO QUE DIVERTIU ROMA
O mais popular dos autores teatrais, por volta de 150 a.C. chamava-se Plauto, e algumas de suas comédias ou palliatas continuam sendo representadas em nossos dias. Sem alcançar a excelência dos autores gregos a quem praticamente traduzia, deslocou situações de antigas comédias para Roma e sua gente. Soube refletir com humor e ironia a conduta humana. Algumas de suas obras são O Soldado Fanfarrão, O Cofre, Epídico, A Comédia do Fantasma e O Gorgulho, textos em que a astúcia e a picardia eram ingredientes essenciais.
Plauto não ignorava o valor gestual do teatro. Assim, em O Soldado Fanfarrão, um militar gaba-se de suas façanhas guerreiras quando na verdade treme por qualquer motivo.

A SÁTIRA COMO GÊNERO
Autêntica criação da literatura latina, a sátira mordaz do comportamento dos homens teve sua origem em Caio Lucílio, com 30 livros em verso em que ridicularizava com leveza os costumes de seu tempo. Mas foi o poeta Horácio quem levou o gênero a sua mais alta expressão. Como ele mesmo assinalava, preferia observar com um sorriso os absurdos extremos a que chegavam.

VIRGÍLIO E A ENEIDA
Publius Vergilius Maro, reconhecido como um dos maiores poetas latinos, foi o autor de As Églogas e as Geórgicas, poemas sobre a vida rural. Mas sua criação fundamental é a Eneida, inspirada nos poemas homéricos. É uma obra de conteúdo político que remonta à guerra de Troia para recuperar Enéas, um herói secundário da Ilíada que atravessará mares e centenas de vicissitudes para encontrar o lugar onde fundaria Roma.
A Eneida foi escrita por encomenda de Mecenas e converteu-se no hino do orgulho romano. Escrita nos tempos de Augusto, um imperador que ansiava por dar sustentação mitológica a seus antepassados, A obra cumpre esse propósito. Enéas, filho de um mortal e da deusa Vênus, sai da destruída Troia levando os deuses Penates da cidade. Os Penates reaparecem na cidade de Lavínia, entroncando assim a tradição grega imperial na descendência do herói.

A POESIA ROMANA
A poesia no Império romano teve uma brilhante etapa iniciada por Lucrécio, um ateu militante que em Da Natureza das Coisas afirma que os deuses nada têm a ver com o humano. Esse período prolonga-se com seu apaixonado Vivamos, Lésbia Minha; com Horácio e suas odes e, claro, com Virgílio. A tradição elegíaca culmina com Ovídio e sua obra Metamorfoses, uma introdução ao mundo dos deuses celestiais.

TEMPO DE FÁBULAS
Também como herança da Grécia – que por sua vez tomou-a dos sumérios -, a fábula conheceu certo esplendor a partir do século I d.C. O escravo trácio Fedro foi o introdutor do gênero em Latim. Recriou temas de Esopo com uma linguagem simples que lhe concedeu a simpatia do povo, já que suas narrativas com animais atacavam os poderosos e defendiam os humildes.

DE OURO E DE PRATA
Poesia e prosa conheceram uma idade de ouro. Brilharam os nomes já mencionados: Horácio, Virgílio, Catulo e Ovídio, o primeiro em seu gênero. Em segundo destacaram-se Cícero e Sêneca, que não haviam nascido em Roma, mas participaram ativamente da vida pública da cidade. Também se inclui Júlio César, com seu Comentários sobre as campanhas das Gálias e Da Guerra Civil.
A idade de prata teve menos esplendor, ainda que tivessem grande relevo Petrônio com seu Satiricon e Plínio “o velho”, autor de uma História Natural, que durante séculos serviu como modelo nessa matéria.

OS SEGREDOS DOS CÉSARES E O ASNO DE OURO
Por volta do ano 120, Suetônio foi nomeado secretário epistolar do imperador Adriano. Esse cargo lhe permitiu acessar os arquivos imperiais e a correspondência e os testamentos dos mandatários anteriores. Suetônio não perdeu essa oportunidade, como reflete sua obra A Vida dos Césares. Ali descreve as animadas biografias e os segredos íntimos daqueles que regiam o Império desde os tempos de Augusto até Domiziano.
A literatura romana havia acompanhado as crises do Império e no século II e III suas melhores expressões literárias declinaram. Lucio Apuleio, nascido no norte da África, escreveu em princípios do ano 200 uma espécie de romance em que se inseriam relatos independentes que não conspiravam contra a trama. A história de Lúcio, um jovem bem posto e endinheirado que decide dedicar-se à magia e, ao confundir um esconjuro, transforma-se em um asno, é o eixo central do livro. As peripécias de sua vida como animal de carga dão lugar a sucessivas aventuras até que consegue regressar à condição humana.

A CHEGADA DO CRISTIANISMO
Em 306 o imperador Constantino I declara a liberdade de cultos e o cristianismo, até então perseguido, converte-se praticamente em religião oficial. As primeiras expressões de literatura cristã se sobrepõem e amiúde convivem com as últimas escrituras pagãs.
Nascido em 340, Santo Ambrósio foi um dos primeiros autores que se fizeram conhecer por meio de sua correspondência e de seus hinos. Assegura-se que sua oratória era tão convincente que por apelo popular foi batizado, ordenado e consagrado bispo de Milão em poucos dias, cargo que ocupou até sua morte.

O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO
Foi um dos pensadores mais transcendentes da época medieval e renascentista. Suas principais obras foram A Cidade de Deus e Confissões. Em seus escritos utilizou o estilo clássico da retórica de Cícero para expressar os sentimentos de um homem que se sente vivendo em pecado, mas que luta contra seus desejos para encontrar a santidade. Suas Confissões são o reflexo desse perpétuo enfrentamento.

MAIS ALÉM DO IMPÉRIO
À medida que o Império romano se expandia, propagava-se sua língua, que foi tomando diferentes matizes ao se mesclar com a linguagem dos povos ocupados. O chamado Latim Vulgar é a origem da maioria dos idiomas europeus falados hoje. Mas o Latim culto, como expressão da Igreja, seguiu sendo utilizado por escritores e filósofos até depois do Renascimento. Autores como os italianos Dante Alighieri, Petrarca e Pico della Mirandola; o holandês Erasmo, e o inglês Thomas Morus usaram o Latim em suas obras. Até meados do século XX, o Latim era matéria de estudo obrigatório em muitas universidades.


DE GIOVANI, Fernando. Atlas de literatura. São Paulo: Escala Educacional, 2007, pg. 56-59.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Literatura Hebraica


Redigido entre os séculos XV e II a.C, os livros sagrados que formam o Antigo Testamento constituem a primeira manifestação conhecida da literatura hebraica. Estes textos, unidos ao Novo Testamento, escritos em grego, formam a Bíblia, “O Livro”, a obra mais difundida da história. A literatura judaica floresceu, em razão das perseguições e da diáspora ou dispersão, em diferentes lugares do mundo. Suas manifestações aparecem em toda a Europa e na América, assim como também há uma geração de escritores próprios de Israel, depois de sua criação, em 1948.

AS PARTES E O TODO
Concebida através dos séculos, a Bíblia contém textos de diversos tipos desde os denominados históricos como o Gênesis, atribuído a Moisés, ou o dos Macabeus, de autor desconhecido, até os relatos de sucessos particulares como o de Ester, que narra como esta rainha judia evita que o vice-rei Haman persiga e escravize seu povo. Estranhamente, em todo este relato não aparece a palavra “Deus”. A luta pela independência aparece exaltada nos Macabeus, enquanto a espiritualidade está presente nos Salmos e no debatido Cânticos dos cânticos, que é atribuído a Salomão.

O CÂNTICO DOS CÂNTICOS
Definido como um dos mais profundos segredos da Bíblia. Os leitores profanos veem no texto um poema dedicado ao amor e à sensualidade, escrito por Salomão para celebrar seus amores com a filha do faraó. A leitura religiosa realizou diversas interpretações assinalando que se trata de uma parábola ou alegoria. Assim, quando o rei diz à vinicultora “beija-me com os beijos de tua boca”, estaria pedindo o beijo de Deus, já que a vinha seria uma metáfora. O erotismo que emana do texto não é mais que a entrega total ao Senhor. Entretanto, houve rabinos que proibiram sua leitura pelo menos até se fazer trinta anos.

A LITERATURA JUDAICA NA ESPANHA
Durante a ocupação da Península Ibérica pelo Islã, as cidades de Córdoba, Sevilha e Toledo, entre outras, abrigaram a pacífica vivência de muçulmanos, judeus e cristãos. Juntos colaboraram na tradução de textos de diversas culturas. Dunash ibn Labrat foi o tradutor da métrica árabe na poesia hebréia. Samuel ibn Negrella, médico e poeta, foi nomeado vizir da cidade de Granada. Entre os poetas mais destacados de sua época, figura Yehudá há-Levi, cultuador de uma forma lírica chamada carjas, um dos primeiros testemunhos em língua românica. Em 1492, com a queda de Granada, os judeus expulsos pela intolerância levaram consigo um dialeto do castelhano: o sefardi.

MAIMÔNIDES, O MÉDICO FILÓSOFO
Nascido em Córdoba por volta de 1135. Maimônides, desde jovem, sofreu com as disputas religiosas na Península Ibérica. Sua família, de origem judia, foi expulsa da região durante o período de dominação islâmica. Depois de vagar pelo sul da península, estabeleceram-se no norte da África. Estudou medicina e, com seu pai, praticou os ensinamentos judeus. Sua principal obra é Guia dos perplexos, na qual procura conciliar a fé, os dogmas do judaísmo, com o racionalismo e a filosofia aristotélica.

BARUCH SPINOZA: UM PENSADOR
Ainda que de pais judeus portugueses, as perseguições do cristianismo fizeram com que o filósofo Baruch Spinoza nascesse em Amsterdã, Holanda, em 1632. Seu pensamento, expresso na Ética e no Tratado teológico-político, escritos em latim, foi repudiado pelo judaísmo e excomungado. Sua obra foi revalorizada séculos depois por personalidades momo Marx, Freud e Einstein. Em vida repudiou os subornos que lhe ofereceram em troca de seu silêncio e sobreviveu exercendo o ofício de polidos de lentes.


DE GIOVANI, Fernando. Atlas de literatura. São Paulo: Escala Educacional, 2007, pg. 42-43.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Literatura Egípcia


Entre 2800 e 2200 a.C., os egípcios haviam desenvolvido uma literatura própria. Os textos das pirâmides constituem a primeira expressão de uma literatura de caráter profundamente mágico e religioso. A escrita egípcia se apresentava de quatro maneiras: a hieroglífica, utilizada nos textos sagrados; a hierática, forma cursiva da hieroglífica; a demótica ou popular, para textos privados ou jurídicos; e a copta, nascida sob a influência dos gregos.

DO COMÉRCIO À POESIA
Entes de adquirir seu sentido religioso e poético, no Egito a escrita havia surgido com fins menos espirituais. Tratava-se de registrar atividades comerciais como a produtividade das colheitas e outras operações mercantis. Depois se transformou em mensagens funerárias destinadas a guiar o defunto até a morada divina e a exaltar suas virtudes. Mas a crise que sobreveio no chamado primeiro período médio, entre 2200 e 2000 a.C., produziu obras de espírito crítico, como as Admoestações de Ipuwer, Diálogo do desiludido.

A MORTE COMO TEMA
Em quase toda a literatura egípcia, as referências à morte são uma constante. Talvez a obra que melhor mostre esse espírito seja o chamado Livro dos mortos, conjunto de orações e instruções para assegurar ao falecido seu passo para o além. Todo o egípcio tinha a possibilidade de adquirir parte dos textos, escritos em papiros, os quais seriam depositados em seu sarcófago ou entre as bandagens da múmia. Isso não implicava uma atitude trágica ante a existência, mas uma reafirmação da mesma: ter presente e fim para viver com plenitude o presente.

A ÉPOCA CLÁSSICA
Entre os anos 1991 e 1786 a.C., surge um gênero literário chamado kemit, destinado à formação erudita dos jovens para convertê-los em bons funcionários. Destacam-se os Ensinamentos para Merikaré para os futuros herdeiros do trono. Dessa época também é uma obra de ficção que, redigida como autobiografia, mescla descrições realistas com situações mágicas e seres mitológicos: as Aventuras de Sinué. A literatura cresce. Escrevem-se numerosas narrações sobre temas folclóricos e fantásticos, como O príncipe predestinado, A filha do príncipe Bajtan ou As maravilhosas aventuras de Satni Jaemonaset.

O NOVO IMPÉRIO
Entre 1567 e 1085 a.C., os egípcios atravessaram uma época de esplendor que alcançou a literatura. Uma nova sensibilidade fez florescer a poesia amatória. Os autores permitiam-se abordar temas intimistas e proclamavam seus sentimentos. Os amantes chamavam um ao outro irmão e irmã, ainda que não fossem, já que era uma expressão poética para refletir um profundo afeto. A coleção mais importante é o papiro Chester Beaty, guardado no British Museum (Londres, Reino Unido).

DE GIOVANI, Fernando. Atlas de literatura. São Paulo: Escala Educacional, 2007, pg. 40-41.

A Literatura Suméria


Em meados do século XIX, um jovem aventureiro inglês com vocação para arqueólogo, Henry Layard, descobriu a existência de uma grande biblioteca na cidade assíria de Nínive. Continha dezenas de milhares de pequenas tábuas de argila, prolixamente gravadas com escrita cuneiforme de cerca de 700 a.C. Essas tábuas resumiam a ocupação e o pensar dos povos que habitaram a Mesopotâmia. Os sumérios não somente haviam criado a escritura, mas também uma literatura de características singulares.

A BIBLIOTECA DE NÍNIVE
Tais tábuas continham um mundo intelectual ignorado por mais de um milênio: temas de gramática, listas de cidades; tratados de matemática, astronomia e medicina; livros de magia, religião, arte, história e literatura. Neste último campo se descobriu aquela que atualmente é considerada a obra narrativa mais antiga da humanidade, A epopéia de Gilgamesh, um rei e um semideus que empreende uma longa viagem em busca da imortalidade e trava combates em companhia de seu amigo Enkidu.

O DILÚVIO ANTECIPADO
Uma das maiores surpresas que ofereceu o descobrimento das tábuas sumérias foi que o dilúvio universal e a salvação de Noé, junto com sua família e as espécies animais, tinham um antecedente praticamente calcado naquela literatura. Não só Gligamesh fala de um dilúvio universal do qual se salvou unicamente Utnapishtim, a quem o deus das águas lhe disse que fizesse uma barcaça e pusesse nela uma semente de cada coisa vivente porque os deuses haviam decidido exterminar a humanidade inundando a Terra. Também as tábuas de Nipur e de Níneve reiteram a história que muitos séculos depois aparece no Gênesis.

A ESCRITA CUNEIFORME
Nascida da necessidade de anotar o resultado das colheitas e algumas operações comerciais, a escritura cuneiforme, em forma de cunha desenhada sobre pranchas de argila, determina o começo da história. A possibilidade de transmitir às gerações seguintes desde simples conselhos agrícolas até normas éticas representou um enorme salto ao futuro. As escolas, ou edubbas, ocuparam-se de ensinar e difundir a escritura exercitando os futuros escribas no uso do cálamo, uma espécie de entalhador que traçava sobre argila úmida as palavras que até esse momento haviam sido patrimônio da tradição oral.

DE GIOVANI, Fernando. Atlas de literatura. São Paulo: Escala Educacional, 2007, pg. 38-39.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Vinícius de Moraes

Ternura
Vinicius de Moraes
Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 259.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Pagador de Promessas - Resumo



Encenada pela primeira vez a 29 de julho de 1960, no Teatro Brasileiro de Comédia (São Paulo), essa peça marca o início da segunda fase do teatro de Dias Gomes e sua consagração como um dos mais destacados dramaturgos contemporâneos do Brasil. Considerada por Anatol Rosenfeld como uma tragédia, no sentido clássico do termo, O Pagador de Promessas, segundo o próprio Dias Gomes, “é a história de um homem que não quis conceder - e foi destruído”.
A peça é dividida em três atos, sendo que os dois primeiros ainda são subdivididos em dois quadros cada um. Após a apresentação dos personagens, o primeiro ato mostra a chegada do protagonista Zé do Burro e sua mulher Rosa, vindos do interior, a uma igreja de Salvador e termina com a negativa do padre em permitir o cumprimento da promessa feita. O segundo ato traz o aparecimento de diversos novos personagens, todos envolvidos na questão do cumprimento ou não da promessa e vai até uma nova negativa do padre, o que ocasiona, dessa vez, explosão colérica em Zé do Burro. O terceiro ato é quando as ações recrudescem, as incompreensões vão ao limite e se verifica o dramático desfecho.


Primeiro ato.
Primeiro quadro.

A ação da peça tem início nas primeiras horas da manhã (4 e meia), numa praça, em frente a uma igreja, em Salvador. O personagem denominado Zé do Burro carrega uma cruz e se aloja na frente da igreja. A seu lado Rosa, sua mulher, apresentada como tendo "sangue quente" e insatisfação sexual. Zé espera a igreja abrir para cumprir sua promessa, feita a Santa Bárbara. Aparecem no lugar, algum tempo depois, Marli e Bonitão: ela prostituta; ele, gigolô. Há uma clara relação de exploração e dependência entre eles. Encontrando Zé, Bonitão dirige-se a ele e percebe ser alguém ingênuo. Rosa, por sua vez, conversando com o gigolô, queixa-se de Zé, contando que ele, na sua promessa, dividiu suas terras com lavradores pobres. Percebendo a ingenuidade, Bonitão propõe-se a providenciar um local para Rosa descansar. Zé não só aceita, como incentiva. Saem os dois, Bonitão e Rosa, de cena.
Segundo quadro.
Aos poucos, começa o movimento ao redor da praça. Aparecem a Beata, o sacristão e o Padre Olavo, titular da igreja. Zé explica a promessa: Nicolau foi ferido com a queda de uma árvore; estando para morrer, Zé fez a promessa. O burro - Nicolau é um burro! - salva-se. Ingenuamente, Zé revela ter usado as rezas de Preto Zeferino e feito a promessa num terreiro de candomblé, a Iansã, equivalente africana de Santa Bárbara. O padre fica escandalizado. Estabelece-se o conflito. O sincretismo Iansã - Santa Bárbara, natural para Zé do Burro, é um grandioso pecado para o padre. A situação agrava-se com a revelação da divisão de terras. Impasse. O padre manda fechar a igreja e proíbe o cumprimento da promessa. Zé do Burro fica atônico.


Segundo ato.
Primeiro quadro.

Duas horas mais tarde, a movimentação no lugar é intensa. Galego, dono do bar, abriu seu estabelecimento. Surgem Minha Tia, vendedora de acarajés, carurus e outras comidas típicas; Dedé Cospe-Rima, poeta popular, ao estilo repentista; o Guarda. Zé do Burro quer cumprir a promessa. O Guarda tenta intervir. Rosa reaparece com "ar culpado". Chega o Repórter. Seguindo a linha do oportunismo sensacionalista, o repórter quer tirar vantagens da história de Zé do Burro. Quer torná-lo um mártir, para virar notícia. Enquanto isso, descobre-se que Rosa transou com Bonitão. Marli faz um pequeno escândalo, denunciando a história Rosa-Bonitão.
Segundo quadro.
Três da tarde, Dedé oferece poemas para Zé, a fim de derrotar o Padre. Aparecem, em momentos subsequentes, o capoeirista Mestre Coca e o policial, o Secreta, chamado por Bonitão, ficando ambos, por enquanto, nas cercanias. Zé começa a perder a paciência e arma uma gritaria. O padre reage. Chega o Monsenhor, autoridade da Igreja, propondo a Zé uma solução: ele, Monsenhor, na qualidade de representante da Igreja, pode liberar Zé da promessa, dando-a por cumprida. Zé não aceita, dizendo que promessa foi feita à Santa e só ela poderia liberá-lo. Segue o impasse. Zé explode novamente e avança com a cruz sobre a Igreja. O padre fecha a porta. Zé, já desesperado, bate com a cruz na porta. O drama é total.

Terceiro ato.
Entardecer. Muita gente na praça e nos arredores da igreja. Há uma roda de capoeira. O Galego, oportunista, oferece comida grátis a Zé, pois a história está trazendo movimento ao seu bar. O Secreta, no bar, avisa que a polícia prenderá Zé, ameaçando os capoeiristas, caso eles interfiram. Marli volta. Ofende Rosa, ofende Zé. O protagonista parece mudar de atitude. Resolve ir embora "à noite". Rosa quer ir embora já. Conta que Bonitão avisou à polícia. Retorna o repórter, que tenta montar um verdadeiro circo em torno do Zé, com o objetivo de vender o jornal. Chega Bonitão e convida Rosa para ir com ele. Zé pede a ela para ficar. Rosa hesita, a princípio, mas, em seguida, vai com Bonitão. Mestre Coca avisa Zé sobre a chegada da polícia. Zé está perplexo: "Santa Bárbara me abandonou". Da igreja saem o Sacristão, o Guarda, o Padre e o Delegado. A tensão da cena acentua-se. Zé ainda tenta, ingênua e inutilmente, explicar alguma coisa. Ao ser cercado, puxa uma faca. As autoridades reagem. Os capoeiristas também. Briga e confusão. De repente, um tiro espalha gente para todos os lados. Zé é mortalmente ferido. Mestre Coca olha para os companheiros, que entendem a mensagem. Os capoeiristas tomam o corpo do Zé colocam-no sobre a cruz e, ignorando padre e polícia, entram na igreja, carregando a cruz.


Obtido dá página do Universitário (http://www.universitário.com.br/)

A literatura de tradição gótica

Alguns escritores do Romantismo se posicionaram contra os valores racionalistas e materialistas da sociedade burguesa, se identificaram com um ambiente satânico, misterioso, de morte, sonho e loucura, criaram então uma literatura fantasiosa. Trata-se da literatura de tradição gótica.
Álvares de Azevedo introduziu na literatura brasileira elementos da tradição gótica, como a morte, o ambiente noturno, o amor, o vampirismo. Essa produção rompe com os valores da sociedade, pois apresenta um caráter marginal.
Há outros escritores que tiveram ligações com essa tendência, na Europa, Charles Baudelaire e Mallarmé, nos Estados Unidos, Edgar Allan Poe e no Brasil, Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Augusto dos Anjos.
As obras Noite na taverna (contos) e Macário (peça teatral) representam a produção gótico-romântica em prosa; ambas de Álvares de Azevedo.
A tradição gótica encontra adeptos não só na literatura, mas na música e no cinema. O ex-integrante do grupo Black Sabbath, Ozzy Osbourne é um dos representantes do rock satânico, o cinema também documentou esse movimento com os filmes Laranja mecânica (anos 70) e Juventude transviada (anos 50).
O cantor Raul Seixas e o escritor Paulo Coelho escreveram juntos algumas canções, como o Rock do diabo.

Rock do diabo
O diabo usa capote
É roque, é toque, é folk
Diabo!
Foi ele mesmo quem me deu o toque
Enquanto Freud explica as coisas
O diabo fica dando os toques
Existem dois diabos
Só que um parou na pista
Um deles é o do toque
O outro é aquele do Exorcista
O diabo é pai do rock!
(Raul Seixas e Paulo Coelho)

Por Marina Cabral Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Obtido de http://www.brasilescola.com/literatura/a-literatura-tradicao-gotica.htm, em 25/11/2009.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Trovadorismo Português II

A experiência mais criativa e fecunda do Trovadorismo - e, portanto, dos primórdios da literatura portuguesa - encontra-se na poesia trovadoresca. De um lirismo estranho, quando comparados, por exemplo, à poesia moderna, os poemas dos trovadores podem parecer ultrapassados àqueles que fizerem uma leitura desatenta, superficial. Massaud Moisés diz bem quando salienta que a poesia trovadoresca "exige do leitor de nossos dias um esforço de adaptação e um conhecimento adequado das condições históricas em que a mesma se desenvolveu, sob pena de tornar-se insensível à beleza e à pureza natural que marcam essa poesia".
Para conhecer as origens da lírica trovadoresca, devemos recordar que, a partir do século 11, e durante todo o século 12, a região da Provença, no sul da França, produziu trovadores e jograis que acabaram se espalhando por vários países da Europa. A influência da poesia provençal chega, inclusive, aos nossos dias. Esses provençais se misturariam aos jograis e menestréis galego-portugueses, dando origem às cantigas que veremos a seguir.
É também da Provença que vem o substantivo "trovador", pois lá o poeta era chamado "troubadour" (enquanto que, no norte da França, recebia o nome de "trouvère"). Nos dois casos, o radical da palavra é o mesmo, referindo-se a "trouver", ou seja, "achar". Os poetas eram aqueles que "achavam" os versos, adequando-os às melodias e formando os cantares ou cantigas.
Para fins didáticos, divide-se a lírica trovadoresca em:

1. Cantigas de amor: o trovador confessa, de maneira dolorosa, a sua angústia, nascida do amor que não encontra receptividade. O "eu lírico" desses poemas se revela, às vezes, na forma de um apelo repetitivo, no qual não há erotismo, mas amor transcendente, idealizado. Como exemplo, vejamos esta cantiga de Pero Garcia Burgalês:
Ai eu coitad! E por que vi
a dona que por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, poila vi,
nunca já mais prazer ar vi;
ca de quantas donas eu vi,
tam bõa dona nunca vi.

Tam comprida de todo bem,
per boa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! Que eu quero gram bem,
per boa fé, nom por meu bem!
Ca pero que lh’eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
(...).

2. Cantigas de amigo: o trovador apresenta o outro lado da relação amorosa, isto é, assume um novo "eu lírico": o da mulher que, humilde e ingênua, canta, por exemplo, o desgosto de amar e, depois, ser abandonada; ou o da mulher que se apaixonou e fala à natureza, à si mesma ou a outrem sobre sua tristeza, seu ideal amoroso ou, ainda, sobre os impedimentos de ver seu amado. No exemplo a seguir, do trovador Julião Bolseiro, o diálogo se estabelece entre a mulher apaixonada e sua filha, que impede a mãe de ver seu amado:
(...)
Pois eu non ei meu amigo,
non ei ren do que desejo,
mais, pois que mi por vós v~eo
Mia filha, que o non vejo,
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.

Por vós perdi meu amigo,
por que gran coita padesco,
e, pois que mi-o vós tolhestes
e melhor ca vós paresco
no ajade-la mia graça
e dê-vos Deus, ai mia filha,
filha que vos assi faça,
filha que vos assi faça.
Como salienta Massaud Moisés, analisando essa dualidade amorosa do trovador, "é digna de nota essa ambiguidade, ou essa capacidade de projetar-se na interlocutora do episódio e exprimir-lhe o sentimento: extremamente original como psicologia literária ou das relações humanas, não existia antes do trovadorismo, e nem jamais se repetiu depois".

3. Cantigas de escárnio e de maldizer: são poemas satíricos. Nas de escárnio, ressaltam-se a ironia e o sarcasmo. Já as de maldizer são agressivas, abertamente eróticas, a sátira é expressa de forma direta, sem meias palavras, chegando a usar termos chulos. Escritas, às vezes, pelos mesmos autores das cantigas de amor e de amigo, revelam um terceiro "eu lírico", cuja licenciosidade se aproxima da vida das camadas sociais mais populares. Como exemplo, vejamos esta cantiga de maldizer de Afonso Eanes de Coton:
Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?

Não podemos esquecer que todas essas cantigas eram musicadas. Os trovadores as cantavam, acompanhados de um ou vários instrumentos musicais. E, em algumas situações, elas podiam, inclusive, ser dançadas.
Infelizmente, muitas dessas cantigas acabaram desaparecendo, já que eram transmitidas também por via oral. Alguns manuscritos, contudo, foram compilados em obras a que damos o nome de "cancioneiros", quase sempre graças às ordens dos reis. Assim, as cantigas hoje existentes podem ser encontradas em três cancioneiros:
a) Cancioneiro da Ajuda (composto no reinado de Afonso 3º, no final do século 13, tem 310 cantigas, a maioria de amor;
b) Cancioneiro da Biblioteca Nacional (ou Cancioneiro Colocci-Brancuti): contem 1.647 cantigas, de todos os tipos, elaboradas por trovadores dos reinados de Afonso 3º e dom Dinis.
c) Cancioneiro da Vaticana: possui 1.205 cantigas de todos os tipos.
Entre os principais trovadores, devemos citar: João Soares Paiva, Paio Soares de Taveirós, dom Dinis (que deixou cerca de 140 cantigas líricas e satíricas), João Garcia de Guilhade e Martim Codax.
De todas as cantigas existentes, apenas 13 são acompanhadas de notação musical.

Bibliografia
· Iniciação à literatura portuguesa, António José Saraiva, Editora Cia. das Letras, 1999. · A literatura portuguesa, Massaud Moisés, Editora Cultrix, 36ª edição, revista e atualizada, 2008.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cruz e Souza - O principal poeta simbolista brasileiro

“Missal" e "Broquéis" são consideradas as obras que inauguram no Brasil o Simbolismo, movimento literário do século 19 que defende a presença da emoção e da subjetividade humana na arte. Elas são de autoria de Cruz e Sousa, um dos ícones da escola simbolista no país.
"Missal" destaca-se, para começar, pela forma: são poemas em prosa, um estilo bastante singular para a literatura nacional de até então.
Diz-se que esse estilo foi inspirado no francês Charles Baudelaire.
Como é comum na literatura, a vida e a obra confundem-se na história de um escritor. Foi um homem que experimentou toda a força de sua existência - angustiada e obscura - projetando-a numa escrita reveladora dos dramas sociais da época.
Filho de escravos alforriados, teve vida sacrificada e com dissabores próprios àqueles de sua origem; por um lado, teve criação privilegiada junto aos seus protetores (ex-senhores de sua família), por outro, sua vida adulta é marcada pelo enfrentamento da sociedade circundante. Por isso dizemos que Cruz e Sousa foi um poeta social.
Esse traço está profundamente arraigado a sua obra e muitos são os estudos realizados que atestam o comprometimento do autor com a cultura antiescravagista.
Na obra sousacruziana a exclusão do negro da trama social brasileira está temperada pelo pessimismo, pela sensação de desamparo e fracasso diante da vida e revolta pelo desprezo do qual é alvo.
A trajetória de Cruz e Sousa mostra também conflitos dos seus próprios valores. Sua busca pela "arte perfeita" o conduz tanto ao extravasamento dos dilemas sofridos pelos negros quanto ao embate íntimo, expresso no desejo de pertencer à mesma sociedade que o exclui. Neste sentido, o homem vê-se sem seu lugar no mundo enquanto o poeta o encontra na expressão perfeita da sua arte, sendo que ambos coexistem à sombra dos paradoxos, constituindo um dos elementos da estética da linguagem sousacruziana.
No seu poema em prosa Condenado à Morte ("Evocações", 1898), podemos encontrar evidências destes choques de identidade.
Estética e vida real o assombram e, para atingir a arte idealizada, a dor é o caminho a ser trilhado. Enquanto o contato social caracteriza o cotidiano preenchendo-o com as agitações de um mundo doente, o isolamento aparece como uma sorte de bênção que permite ao poeta o exercício pleno da contemplação e da descoberta da verdade.

"Isolado do Mundo, no exílio da Concentração, solitário, na tristeza majestosa de um belo deus esquecido, as outras forças múltiplas que agem na Terra, na luta desenfreada de cada dia, que equilibram as sociedades, que regem a massa vã dos princípios, que dão ritmo a onda eterna do movimento e entram na vasta elaboração da cultura das raças, sentiram-se hostilizados diante da sua intuitiva percuciência de vidente, de sua ironia gelada de asceta, do seu desdém soberano de apóstolo, da sua Fé indestrutível, serena de missionário, de extraordinário levita sombrio de um culto estranho, que leva aos lábios, em extremo, o Cálix místico da comunhão suprema da Espiritualidade e da Forma."

Contradições também são vistas no poema Da Senzala ("O Livro Derradeiro", publicação póstuma). Abaixo, é possível notar que, para aqueles cuja existência estivesse soterrada pela rudeza e dor, não haveria uma saída possível sem uma passagem pela violência.
O lugar onde se encontra (a senzala) e a brutalidade expressa pelo sofrimento diário e incessante do trabalho forçado são capazes de tirar a razão do homem. Sem razão, sem um sentido pelo qual viver, sem um espaço reconhecido como lar, o que resta a este homem então?
O autor aponta que, destituindo-se o homem de si mesmo, alimenta-se o criminoso. Observemos o poema:

"De dentro da senzala escura e lamacenta
Aonde o infeliz
De lágrimas em fel, de ódio se alimenta
Tornando meretriz

A alma que ele tinha, ovante, imaculada
Alegre e sem rancor,
Porém que foi aos poucos sendo transformada
Aos vivos do estertor...

De dentro da senzala
Aonde o crime é rei, e a dor - crânios abala
Em ímpeto ferino;

Não pode sair, não,
Um homem de trabalho, um senso, uma razão...
e sim um assassino!"

Cruz e Sousa travou uma luta não só para expressar-se sobre a sociedade de seu tempo, mas também para compreender-se enquanto homem e artista. Sua escrita foi, por um lado, tomada como arma para combater aqueles que o renegavam e, por outro, um objeto sagrado usado para reverenciar seu anseio de fazer-se notar por sua força estética e pela sua plenitude humana.

*Lílian Campos é formada em letras e professora de língua francesa na PUC-PR e na UFPR, com atuação também no ensino de língua portuguesa.

Trovadorismo Português

Quando estudamos a literatura de Portugal não podemos esquecer que a formação do reino português, separado do reino espanhol, ocorre apenas quando a Guerra da Reconquista (durante a qual os visigodos cristãos, partindo da região das Astúrias, lutaram contra os árabes, expulsando-os da Península Ibérica) chega a sua fase final. Nesse ponto, assume papel preponderante a povoação de Portucale, na foz do rio Douro. O reino da Galícia (ou Galiza) localizava-se na região noroeste da Península Ibérica (e hoje é uma das comunidades autônomas que compõem a Espanha).
Antes disso, no entanto, Espanha e Portugal formavam um só conjunto de reinos mais ou menos independentes, nos quais os falares, os dialetos conviviam lado a lado, influenciando-se mutuamente. Como afirma António José Saraiva, "o galego-português e o castelhano nasceram [...] como dois dialetos da mesma língua neolatina e foram-se diversificando ao longo do tempo".
Esclarecidas, ainda que superficialmente, essas questões, podemos retornar ao Trovadorismo.
Essa primeira fase da literatura portuguesa é composta por três categorias diferentes de textos:
1) a poesia trovadoresca;
2) as novelas de cavalaria; e
3) crônicas, hagiografias e livros de linhagens.


As crônicas (ou cronicões), algumas delas ainda escritas em latim, guardam certo interesse pelo fato de representarem o início da historiografia portuguesa. Quanto às hagiografias, nascem sob a influência da cultura clerical, através de traduções de vidas de santos e relatos de milagres.
No que se refere aos livros de linhagens, são os mais interessantes, pois não se restringem à enumeração das famílias nobres, mas tratam também de outros temas. Redigidos sob orientação de dom Pedro, Conde de Barcelos, compõem a obra Portugaliae monumenta historica.
Encontramos nesses livros textos curiosos e bem escritos, como uma descrição da Batalha do Salado (travada, entre cristãos e mouros, em 1340, na província de Cádis, no sul da Espanha), bom exemplo da prosa medieval portuguesa, e o esboço de uma história universal que, evidentemente, começa com Adão e Eva e termina nos reis portugueses que reconquistaram a península. Há também a "Lenda da Dama Pé de Cabra", mais tarde recontada por Alexandre Herculano.

A partir do final do século 13 - e durante o 14 - chegam a Portugal traduções do ciclo de narrativas arturianas, descrevendo as façanhas dos cavaleiros de Artur, rei e herói mítico. A influência dessas narrativas é tão grande que, segundo António José Saraiva, "numerosas pessoas em Portugal foram a partir de então batizadas com nomes de heróis daquele ciclo, como Tristão, Iseu, Lançarote e Perceval".
Tais traduções não só influenciaram os usos e costumes sociais, incluindo as festas palacianas, as cerimônias de investidura, etc., como também fizeram surgir, no período literário seguinte (o Humanismo, 1418-1527), o Amadis de Gaula (1528), elogiada novela de cavalaria cujo verdadeiro autor - português ou espanhol - permanece um mistério.

http://educacao.uol.com.br/portugues/trovadorismo-origens-e-prosa.jhtm, em 16/02/2010.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Nascimento do Brasil


Por volta do século XIV e XV a Europa passava por transformações econômicas e sociais: o crescimento do capitalismo, das cidades. Após o declínio do feudalismo, a burguesia encontrava no Estado monárquico a garantia de unificação e centralização representada na figura do rei.

O comércio inicia sua expansão e as mercadorias passam a ser transportadas e, dessa forma, os grupos mercantis são formados ao longo do continente europeu. A expansão marítima é intensificada e as disputas pelo comércio marítimo também.
Novas rotas mercantis são criadas a fim de suprir as demandas do mercado consumidor, que só aumentava
A Península Ibérica, formada por Portugal e Espanha, estava em posição de poder: acabara de reconquistar seus territórios ocupados, até então, por muçulmanos, e estava em posição geográfica favorável para a navegação, o que favoreceu a conquista de novas terras.
As rotas comerciais para o Oriente favoreciam a descoberta e colonização de novas terras por parte de Portugal.
Após a bem sucedida expedição de Vasco da Gama às Índias, o rei de Portugal, D. Manuel I, resolve enviar uma esquadra às Índias, liderada por Pedro Álvares Cabral, com a intenção de estreitar vínculos comerciais. Contudo, a esquadra que inicialmente iria em direção à costa africana, se pendeu para o continente americano. Alguns estudos comprovam que o rei D. Manuel I já sabia da existência do Brasil, já que desde 1351 o território brasileiro era representado em mapas como uma ilha em meio ao Atlântico. Porém, não há confirmação exata a respeito desse assunto.
No dia 22 de abril a esquadra portuguesa avista um monte, o Monte Pascoal, intitulado assim por ser Páscoa.
O escrivão da esquadra, Pero Vaz de Caminha, registra a primeira missa na nova terra, chamada de Vera Cruz, feita pelo Frei Henrique de Coimbra, o qual pregou que o território descoberto deveria ser convertido ao cristianismo, em nome do rei. A terra, então, passou a se chamar Terra de Santa Cruz e, posteriormente, Brasil, devido à quantidade de pau-brasil no litoral.
As expedições marítimas tinham a proteção da Ordem de Cristo, sob chefia do papa. Os portugueses estavam em guerra religiosa com os árabes e as expedições tinham a intenção de propagar a fé cristã e disseminar os infiéis.
A Ordem de Cristo era, portanto, uma companhia religiosa e militar comandada pelas orientações do papa, o único com autorização para ocupar territórios como o Brasil, repleto de “infiéis”. Podemos considerar como o início da literatura a carta de Pero Vaz de Caminha, os diários de navegação, os tratados firmados, além dos escritos pedagógicos e informativos da evangelização jesuíta. O mais enfático jesuíta é Padre José de Anchieta, que veio ao Brasil com a proposta de catequizar os índios, por volta de 1553. Dedicou-se à catequese e é conhecido por suas poesias de devoção, cartas e estudos da língua tupi (autor da primeira gramática tupi-guarani).

Por Sabrina Vilarinho / Graduada em Letras. URL: http://www.brasilescola.com/literatura/nascimento-brasil.htm, em 25/11/2009