terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Literatura Egípcia


Entre 2800 e 2200 a.C., os egípcios haviam desenvolvido uma literatura própria. Os textos das pirâmides constituem a primeira expressão de uma literatura de caráter profundamente mágico e religioso. A escrita egípcia se apresentava de quatro maneiras: a hieroglífica, utilizada nos textos sagrados; a hierática, forma cursiva da hieroglífica; a demótica ou popular, para textos privados ou jurídicos; e a copta, nascida sob a influência dos gregos.

DO COMÉRCIO À POESIA
Entes de adquirir seu sentido religioso e poético, no Egito a escrita havia surgido com fins menos espirituais. Tratava-se de registrar atividades comerciais como a produtividade das colheitas e outras operações mercantis. Depois se transformou em mensagens funerárias destinadas a guiar o defunto até a morada divina e a exaltar suas virtudes. Mas a crise que sobreveio no chamado primeiro período médio, entre 2200 e 2000 a.C., produziu obras de espírito crítico, como as Admoestações de Ipuwer, Diálogo do desiludido.

A MORTE COMO TEMA
Em quase toda a literatura egípcia, as referências à morte são uma constante. Talvez a obra que melhor mostre esse espírito seja o chamado Livro dos mortos, conjunto de orações e instruções para assegurar ao falecido seu passo para o além. Todo o egípcio tinha a possibilidade de adquirir parte dos textos, escritos em papiros, os quais seriam depositados em seu sarcófago ou entre as bandagens da múmia. Isso não implicava uma atitude trágica ante a existência, mas uma reafirmação da mesma: ter presente e fim para viver com plenitude o presente.

A ÉPOCA CLÁSSICA
Entre os anos 1991 e 1786 a.C., surge um gênero literário chamado kemit, destinado à formação erudita dos jovens para convertê-los em bons funcionários. Destacam-se os Ensinamentos para Merikaré para os futuros herdeiros do trono. Dessa época também é uma obra de ficção que, redigida como autobiografia, mescla descrições realistas com situações mágicas e seres mitológicos: as Aventuras de Sinué. A literatura cresce. Escrevem-se numerosas narrações sobre temas folclóricos e fantásticos, como O príncipe predestinado, A filha do príncipe Bajtan ou As maravilhosas aventuras de Satni Jaemonaset.

O NOVO IMPÉRIO
Entre 1567 e 1085 a.C., os egípcios atravessaram uma época de esplendor que alcançou a literatura. Uma nova sensibilidade fez florescer a poesia amatória. Os autores permitiam-se abordar temas intimistas e proclamavam seus sentimentos. Os amantes chamavam um ao outro irmão e irmã, ainda que não fossem, já que era uma expressão poética para refletir um profundo afeto. A coleção mais importante é o papiro Chester Beaty, guardado no British Museum (Londres, Reino Unido).

DE GIOVANI, Fernando. Atlas de literatura. São Paulo: Escala Educacional, 2007, pg. 40-41.

A Literatura Suméria


Em meados do século XIX, um jovem aventureiro inglês com vocação para arqueólogo, Henry Layard, descobriu a existência de uma grande biblioteca na cidade assíria de Nínive. Continha dezenas de milhares de pequenas tábuas de argila, prolixamente gravadas com escrita cuneiforme de cerca de 700 a.C. Essas tábuas resumiam a ocupação e o pensar dos povos que habitaram a Mesopotâmia. Os sumérios não somente haviam criado a escritura, mas também uma literatura de características singulares.

A BIBLIOTECA DE NÍNIVE
Tais tábuas continham um mundo intelectual ignorado por mais de um milênio: temas de gramática, listas de cidades; tratados de matemática, astronomia e medicina; livros de magia, religião, arte, história e literatura. Neste último campo se descobriu aquela que atualmente é considerada a obra narrativa mais antiga da humanidade, A epopéia de Gilgamesh, um rei e um semideus que empreende uma longa viagem em busca da imortalidade e trava combates em companhia de seu amigo Enkidu.

O DILÚVIO ANTECIPADO
Uma das maiores surpresas que ofereceu o descobrimento das tábuas sumérias foi que o dilúvio universal e a salvação de Noé, junto com sua família e as espécies animais, tinham um antecedente praticamente calcado naquela literatura. Não só Gligamesh fala de um dilúvio universal do qual se salvou unicamente Utnapishtim, a quem o deus das águas lhe disse que fizesse uma barcaça e pusesse nela uma semente de cada coisa vivente porque os deuses haviam decidido exterminar a humanidade inundando a Terra. Também as tábuas de Nipur e de Níneve reiteram a história que muitos séculos depois aparece no Gênesis.

A ESCRITA CUNEIFORME
Nascida da necessidade de anotar o resultado das colheitas e algumas operações comerciais, a escritura cuneiforme, em forma de cunha desenhada sobre pranchas de argila, determina o começo da história. A possibilidade de transmitir às gerações seguintes desde simples conselhos agrícolas até normas éticas representou um enorme salto ao futuro. As escolas, ou edubbas, ocuparam-se de ensinar e difundir a escritura exercitando os futuros escribas no uso do cálamo, uma espécie de entalhador que traçava sobre argila úmida as palavras que até esse momento haviam sido patrimônio da tradição oral.

DE GIOVANI, Fernando. Atlas de literatura. São Paulo: Escala Educacional, 2007, pg. 38-39.