terça-feira, 5 de junho de 2012

Fernando Pessoa

Além de ser um grande poeta, Fernando Pessoa inventava poetas. Cada um possui sua personalidade, profissão, pensamentos e estilos distintos. Existem três desses heteronômios que são os mais importantes:

Alberto Caieiro "nasceu" em 1889. Era de estatura média e morreu de tuberculose. Tinha olhos azuis e vivia com uma tia velha, tia avó. Não teve profissão nem educação quase alguma, apenas o primário. Ele é o poeta que foge para o campo, pois, sendo poeta, nada mais que poeta, ele deve procurar viver simplesmente como as flores, as fontes, os prados etc. Para Caieiro a natureza é feliz porque não sabe pensar:
    O essencial é saber ver,
    Saber ver sem estar a pensar;
    Saber ver quando se vê,
    E nem pensar quando se vê,
    Nem ver quando se pensa.

Ricardo Reis "nasceu" em 1887 e era médico. Era um pouco mais baixo que Alberto Caieiro, forte, magro e moreno. Foi educado num colégio de jesuítas. "Ele simboliza uma forma humanística de ver o mundo, evidente na adesão ressuscitadora do espírito da Antiguidade clássica, de que o culto da ode e do organismo anterior à noção do pecado, constituem apenas duas particularidades, mas expressivas manifestações."(Massaud Moisés)
      Assim façamos nossa vida um dia,
      Incientes, Lídia, voluntariamente
      Que há noites antes e após
      O pouco que duramos.

Álvaro de Campos "nasceu" em Tavira, no dia 15 de outubro de 1890. Era engenheiro naval. Alto, 1,75m, magro e um pouco tendente a curvar-se. Tinha os cabelos lisos e normalmente jogados de lado, utilizava uma lente corretora num olho só, uma espécie de monóculo. Teve uma educação vulgar de liceu. Era um poeta moderno do século XX. Campos extrai a própria razão do desespero e "não foge de sua condição de homem sujeito à máquina e à cegueira dos semelhantes, tudo transfundido numa revolta a um tempo atual e perene, próprio dos espíritos inconformados":
          Na véspera de partir nunca
          Ao menos não há que arrumar malas
          Nem fazer planos de pepel.

Perguntado como escrevia em nome desses três heteronômios, disse Fernando Pessoa: "Caieiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstrata, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever o não sei o quê."

OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Minimanual compacto de literatura portuguesa: teoria e prática. 1ed - São Paulo. Rideel, 2003, pág.XXXI-XXXII.