quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Trovadorismo Português

Quando estudamos a literatura de Portugal não podemos esquecer que a formação do reino português, separado do reino espanhol, ocorre apenas quando a Guerra da Reconquista (durante a qual os visigodos cristãos, partindo da região das Astúrias, lutaram contra os árabes, expulsando-os da Península Ibérica) chega a sua fase final. Nesse ponto, assume papel preponderante a povoação de Portucale, na foz do rio Douro. O reino da Galícia (ou Galiza) localizava-se na região noroeste da Península Ibérica (e hoje é uma das comunidades autônomas que compõem a Espanha).
Antes disso, no entanto, Espanha e Portugal formavam um só conjunto de reinos mais ou menos independentes, nos quais os falares, os dialetos conviviam lado a lado, influenciando-se mutuamente. Como afirma António José Saraiva, "o galego-português e o castelhano nasceram [...] como dois dialetos da mesma língua neolatina e foram-se diversificando ao longo do tempo".
Esclarecidas, ainda que superficialmente, essas questões, podemos retornar ao Trovadorismo.
Essa primeira fase da literatura portuguesa é composta por três categorias diferentes de textos:
1) a poesia trovadoresca;
2) as novelas de cavalaria; e
3) crônicas, hagiografias e livros de linhagens.


As crônicas (ou cronicões), algumas delas ainda escritas em latim, guardam certo interesse pelo fato de representarem o início da historiografia portuguesa. Quanto às hagiografias, nascem sob a influência da cultura clerical, através de traduções de vidas de santos e relatos de milagres.
No que se refere aos livros de linhagens, são os mais interessantes, pois não se restringem à enumeração das famílias nobres, mas tratam também de outros temas. Redigidos sob orientação de dom Pedro, Conde de Barcelos, compõem a obra Portugaliae monumenta historica.
Encontramos nesses livros textos curiosos e bem escritos, como uma descrição da Batalha do Salado (travada, entre cristãos e mouros, em 1340, na província de Cádis, no sul da Espanha), bom exemplo da prosa medieval portuguesa, e o esboço de uma história universal que, evidentemente, começa com Adão e Eva e termina nos reis portugueses que reconquistaram a península. Há também a "Lenda da Dama Pé de Cabra", mais tarde recontada por Alexandre Herculano.

A partir do final do século 13 - e durante o 14 - chegam a Portugal traduções do ciclo de narrativas arturianas, descrevendo as façanhas dos cavaleiros de Artur, rei e herói mítico. A influência dessas narrativas é tão grande que, segundo António José Saraiva, "numerosas pessoas em Portugal foram a partir de então batizadas com nomes de heróis daquele ciclo, como Tristão, Iseu, Lançarote e Perceval".
Tais traduções não só influenciaram os usos e costumes sociais, incluindo as festas palacianas, as cerimônias de investidura, etc., como também fizeram surgir, no período literário seguinte (o Humanismo, 1418-1527), o Amadis de Gaula (1528), elogiada novela de cavalaria cujo verdadeiro autor - português ou espanhol - permanece um mistério.

http://educacao.uol.com.br/portugues/trovadorismo-origens-e-prosa.jhtm, em 16/02/2010.

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