terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Literatura Latina

Entre os numerosos escravos gregos levados a Roma estava Lívio Andrônico, nascido em Taranto por volta de 280 a.C. Sua condição não impediu de ser o iniciador da literatura latina. Foi encarregado de traduzir a Odisseia para o Latim e escreveu as primeiras peças dramáticas nessa língua. O Latim foi a língua literária que predominou como idioma oficial da Igreja Católica e se manteve com o humanismo até o século XVIII.

DO GREGO AO LATIM
Ainda que nascido na Calábria, ao sul de Roma, Quinto Ênio obteve a cidadania romana em 184 a.C. Chegou à capital do Império como soldado, mas logo começou a dar aulas de Grego e adaptou obras dramáticas. Escreveu tragédias, comédias, sátiras e poemas, mas a história o recorda por seus Anais, 18 livros que exaltam a grandeza de Roma e suas conquistas ano por ano, um longo poema em versos hexâmetros adaptados do grego para o Latim.

O COMEDIÓGRAFO QUE DIVERTIU ROMA
O mais popular dos autores teatrais, por volta de 150 a.C. chamava-se Plauto, e algumas de suas comédias ou palliatas continuam sendo representadas em nossos dias. Sem alcançar a excelência dos autores gregos a quem praticamente traduzia, deslocou situações de antigas comédias para Roma e sua gente. Soube refletir com humor e ironia a conduta humana. Algumas de suas obras são O Soldado Fanfarrão, O Cofre, Epídico, A Comédia do Fantasma e O Gorgulho, textos em que a astúcia e a picardia eram ingredientes essenciais.
Plauto não ignorava o valor gestual do teatro. Assim, em O Soldado Fanfarrão, um militar gaba-se de suas façanhas guerreiras quando na verdade treme por qualquer motivo.

A SÁTIRA COMO GÊNERO
Autêntica criação da literatura latina, a sátira mordaz do comportamento dos homens teve sua origem em Caio Lucílio, com 30 livros em verso em que ridicularizava com leveza os costumes de seu tempo. Mas foi o poeta Horácio quem levou o gênero a sua mais alta expressão. Como ele mesmo assinalava, preferia observar com um sorriso os absurdos extremos a que chegavam.

VIRGÍLIO E A ENEIDA
Publius Vergilius Maro, reconhecido como um dos maiores poetas latinos, foi o autor de As Églogas e as Geórgicas, poemas sobre a vida rural. Mas sua criação fundamental é a Eneida, inspirada nos poemas homéricos. É uma obra de conteúdo político que remonta à guerra de Troia para recuperar Enéas, um herói secundário da Ilíada que atravessará mares e centenas de vicissitudes para encontrar o lugar onde fundaria Roma.
A Eneida foi escrita por encomenda de Mecenas e converteu-se no hino do orgulho romano. Escrita nos tempos de Augusto, um imperador que ansiava por dar sustentação mitológica a seus antepassados, A obra cumpre esse propósito. Enéas, filho de um mortal e da deusa Vênus, sai da destruída Troia levando os deuses Penates da cidade. Os Penates reaparecem na cidade de Lavínia, entroncando assim a tradição grega imperial na descendência do herói.

A POESIA ROMANA
A poesia no Império romano teve uma brilhante etapa iniciada por Lucrécio, um ateu militante que em Da Natureza das Coisas afirma que os deuses nada têm a ver com o humano. Esse período prolonga-se com seu apaixonado Vivamos, Lésbia Minha; com Horácio e suas odes e, claro, com Virgílio. A tradição elegíaca culmina com Ovídio e sua obra Metamorfoses, uma introdução ao mundo dos deuses celestiais.

TEMPO DE FÁBULAS
Também como herança da Grécia – que por sua vez tomou-a dos sumérios -, a fábula conheceu certo esplendor a partir do século I d.C. O escravo trácio Fedro foi o introdutor do gênero em Latim. Recriou temas de Esopo com uma linguagem simples que lhe concedeu a simpatia do povo, já que suas narrativas com animais atacavam os poderosos e defendiam os humildes.

DE OURO E DE PRATA
Poesia e prosa conheceram uma idade de ouro. Brilharam os nomes já mencionados: Horácio, Virgílio, Catulo e Ovídio, o primeiro em seu gênero. Em segundo destacaram-se Cícero e Sêneca, que não haviam nascido em Roma, mas participaram ativamente da vida pública da cidade. Também se inclui Júlio César, com seu Comentários sobre as campanhas das Gálias e Da Guerra Civil.
A idade de prata teve menos esplendor, ainda que tivessem grande relevo Petrônio com seu Satiricon e Plínio “o velho”, autor de uma História Natural, que durante séculos serviu como modelo nessa matéria.

OS SEGREDOS DOS CÉSARES E O ASNO DE OURO
Por volta do ano 120, Suetônio foi nomeado secretário epistolar do imperador Adriano. Esse cargo lhe permitiu acessar os arquivos imperiais e a correspondência e os testamentos dos mandatários anteriores. Suetônio não perdeu essa oportunidade, como reflete sua obra A Vida dos Césares. Ali descreve as animadas biografias e os segredos íntimos daqueles que regiam o Império desde os tempos de Augusto até Domiziano.
A literatura romana havia acompanhado as crises do Império e no século II e III suas melhores expressões literárias declinaram. Lucio Apuleio, nascido no norte da África, escreveu em princípios do ano 200 uma espécie de romance em que se inseriam relatos independentes que não conspiravam contra a trama. A história de Lúcio, um jovem bem posto e endinheirado que decide dedicar-se à magia e, ao confundir um esconjuro, transforma-se em um asno, é o eixo central do livro. As peripécias de sua vida como animal de carga dão lugar a sucessivas aventuras até que consegue regressar à condição humana.

A CHEGADA DO CRISTIANISMO
Em 306 o imperador Constantino I declara a liberdade de cultos e o cristianismo, até então perseguido, converte-se praticamente em religião oficial. As primeiras expressões de literatura cristã se sobrepõem e amiúde convivem com as últimas escrituras pagãs.
Nascido em 340, Santo Ambrósio foi um dos primeiros autores que se fizeram conhecer por meio de sua correspondência e de seus hinos. Assegura-se que sua oratória era tão convincente que por apelo popular foi batizado, ordenado e consagrado bispo de Milão em poucos dias, cargo que ocupou até sua morte.

O PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO
Foi um dos pensadores mais transcendentes da época medieval e renascentista. Suas principais obras foram A Cidade de Deus e Confissões. Em seus escritos utilizou o estilo clássico da retórica de Cícero para expressar os sentimentos de um homem que se sente vivendo em pecado, mas que luta contra seus desejos para encontrar a santidade. Suas Confissões são o reflexo desse perpétuo enfrentamento.

MAIS ALÉM DO IMPÉRIO
À medida que o Império romano se expandia, propagava-se sua língua, que foi tomando diferentes matizes ao se mesclar com a linguagem dos povos ocupados. O chamado Latim Vulgar é a origem da maioria dos idiomas europeus falados hoje. Mas o Latim culto, como expressão da Igreja, seguiu sendo utilizado por escritores e filósofos até depois do Renascimento. Autores como os italianos Dante Alighieri, Petrarca e Pico della Mirandola; o holandês Erasmo, e o inglês Thomas Morus usaram o Latim em suas obras. Até meados do século XX, o Latim era matéria de estudo obrigatório em muitas universidades.


DE GIOVANI, Fernando. Atlas de literatura. São Paulo: Escala Educacional, 2007, pg. 56-59.

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