terça-feira, 27 de setembro de 2011

História do cerco de Lisboa - José Saramago



A OBRA
Raimundo Benvindo Silva é um revisor de textos, solteiro, com mais de 50 anos, alguém que luta para manter sua integridade desde uma posição de humildade social e econômica. No início da narrativa, ele revisa um livro chamado História do cerco de Lisboa. O livro narra a tomada de Lisboa em 1147, então em posse dos mouros, pelas forças portuguesas com a ajuda dos cruzados que seguiam para o oriente e a Terra Santa. Raimundo, contudo, discorda de várias informações históricas contidas no livro. Enquanto termina a revisão, Raimundo fantasia com a verdadeira história daquele cerco, com os detalhes omitidos pelos livros de história. Cresce sua vontade de romper com o mandamento máximo dos revisores, que é não intervir no conteúdo do texto. É quando a tentação de se fazer notar escapa ao seu controle: ele acrescenta um NÃO em uma frase decisiva do livro. Os cruzados decidem NÃO ajudar a tomar Lisboa, contrariando a História oficial. Espera que alguém talvez perceba o seu ato a tempo, mas o livro vai para a gráfica sem que o acréscimo seja notado. Somente 13 dias depois é chamado na editora para prestar contas. Após ser questionando por que fez o que fez, ele acaba alegando uma espécie de insanidade temporária. Aparece então Maria Sara, uma profissional contratada pela editora para evitar esses erros. Raimundo se envolverá com ela e aceitará sua proposta de reescrever a História do Cerco considerando o NÃO que ele acrescentou. Na história de Raimundo, surgem dois personagens que se apaixonam durante o cerco, o soldado Mogueime (que serviu de escada para seu capitão Mem Ramires na tomada de Santarém) e Ouroana, uma barregã (concubina), que chega ao cerco acompanhando seu senhor, um cruzado alemão de nome Henrique. No plano do presente do livro, Raimundo e Maria Sara começam a viver sua história de amor. No plano da Lisboa sitiada, antes da conquista, Mogueime e Ouroana, agora desimpedida (ainda que assediada por outros homens importantes), se aproximam e passam a viver uma história de amor. A casa de Raimundo, que nunca tinha conhecido mulher senão a diarista (Maria), recebe agora as visitas de Maria Sara. A sobreposição do plano da história com o plano do presente é frequente ao final do livro, assim como o paralelo entre os casais.

COMO LER
Importância do livro: a discussão entre a proximidade do texto histórico e do texto ficcional, sendo ambos organizações deliberadas dos fatos, tentativas de explicar o mundo. O que o vestibulando deve observar: o gesto transformador de Raimundo Silva, que, a partir do NÃO, passa a ter importância para si mesmo e para o outro (Maria Sara). Dificuldade do livro: a linguagem e a técnica de Saramago, seja pelo uso inusitado da pontuação nos diálogos, seja pelos vários planos em que se desenrola o livro. Como entender o livro: é preciso pensar que são três histórias do cerco de Lisboa: a do autor que tem seu texto alterado por Raimundo; a do próprio Raimundo, que aceita o desafio de Maria Sara; e a do narrador do livro, que é na verdade a única das três histórias a que temos acesso. Uma chave de leitura: é preciso ler o livro com muita atenção. Depois dos primeiros capítulos, que são os mais difíceis, a trama fica mais clara.

http://wp.clicrbs.com.br/clicvestibular/2011/08/17/livros-da-ufgrs-historia-do-cerco-de-lisboa/ em 23/09/2011.

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