sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SIMBOLISMO - Poetas

CRUZ E SOUZA (1861-1898) – Sua produção inicial fala da dor e do sofrimento do homem negro, mas evolui para o sofrimento e a angústia do ser humano. Em suas poesias, estão sempre presentes a sublimação, a anulação da matéria para a liberação da espiritualidade, só conseguida com a morte. Outra característica sua é a obsessão pela cor branca e por tudo aquilo que sugere brancura.

Música da Morte
A Música da Morte, a nebulosa,
estranha, imensa música sombria,
passa a tremer pela minh’alma e fria
gela, fica a tremer, maravilhosa...


Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
letes sinistro e torvo da agonia,
recresce e lancinante sinfonia,
sobe, numa volúpia dolorosa...

Sobe, recresce, tumultuando e amarga,
tremenda, absurda, imponderada e larga,
de pavores e trevas alucina...

E alucinando e em trevas delirando,

Como um ópio letal, vertiginando,
Os meus nervos, letárgica, fascina...

Flores da Lua
Brancuras imortais da Lua Nova,
frios de nostalgia e sonolência...
Sonhos brancos da Lua e viva essência
dos fantasmas noctívagos da Cova.


Da noite a tarda e taciturna trova
soluça, numa trêmula dormência ...
Na mais branda, mais leve florescência
tudo em Visões e Imagens se renova.

Mistérios virginais dormem no Espaço,
dormem o sono das profundas seivas,
monótono, infinito, estranho e lasso...

E das origens da luxúria forte
Abrem nos astros, nas sidéreas leivas
flores amargas do palor da Morte.


Cavador do Infinito
Com a lâmpada do sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.


Ânsias, Desejos, tudo a fogo escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
Mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias...

Alto levanta a lâmpada do Sonho
E com seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!


ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921) – Misticismo, Amor e Morte, eis o triângulo que caracteriza sua obra. Além desses, destacam-se ainda a linguagem de sugestão , o uso de aliterações e uma tendência à autocompaixão.

Ismália
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.


No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

A cabeça de corvo
Na mesa, quando em meio à noite lenta
Escrevo antes que o sono me adormeça,
Tenho o negro tinteiro que a cabeça
De um corvo representa.

A contemplá-lo mudamente fico
E numa dor atroz mais me concentro:
E entreabrindo-lhe o grande e fino bico,
Meto-lhe a pena pela goela a dentro.

E solitariamente, pouco a pouco,
Do bojo tiro a pena, rasa em tinta ...
E a minha mão, que treme toda, pinta
Versos próprios de um louco.

E o aberto olhar vidrado da funesta
Ave que representa meu tinteiro,
Vai-me seguindo a mão, que corre lesta,
Toda a tremer pelo papel tinteiro.

Dizem-me todos que atirar eu devo
Trevas em fora este agourento corvo
Pois dele sangra o desespero torvo
Destes versos que escrevo.

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