quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Principal autor do período Barroco

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA (1636-1695)

Poesia Amorosa
A) O amor elevado
Anjo no nome, Angélica na cara!Isso é ser flor, e Anjo juntamente:Ser Angélica flor, e Anjo florente*Em quem, senão em vós, se uniformara?Quem vira uma tal flor, que a não cortara,De verde pé, da rama florescente?A quem um Anjo vira tão luzenteQue por seu Deus o não idolatrara?Se pois como Anjo sois dos meus altares,Fôreis o meu custódio*, e minha guarda,Livrara eu de diabólicos azares.Mas vejo que tão bela, e tão galharda,Posto que* os Anjos nunca dão pesares,Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.
Florente: florido.Custódio: defesaPosto que: ainda que.

B) O amor obsceno-satírico
O amor é finalmenteum embaraço de pernas,uma união de barrigas,um breve tremor de artérias.Uma confusão de bocas,uma batalha de veias,um reboliço de ancas,quem diz outra coisa, é besta.

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Poesia Satírica - Epílogos

Que falta nesta cidade?... Verdade

Que mais por sua desonra?... Honra
Falta mais que se lhe proponha?... Vergonha
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.
Quem a pôs neste socrócio*? ... Negócio.
Quem causa tal perdição? ... Ambição.
E o maior desta loucura? ... Usura.
Notável desaventura
De um povo néscio* e sandeu*,
Que não sabe que o perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quem são seus doces objetos?... Pretos.
Tem outros bem mais maciços?... Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.
Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, mestiços, mulatos. (...)
E que justiça a resguarda?... Bastarda
É grátis distribuída?... Vendida
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta. (...)
E nos frades há manqueiras?... Freiras.
Em que se ocupam os serões?... Sermões.
Não se ocupam em disputas?... Putas.
Com palavras dissolutas
Me concluís na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.
O açúcar já se acabou? ... Baixou.
E o dinheiro se extinguiu? ... Subiu.
Logo já convalesceu? ... Morreu
.À Bahia aconteceu
O que a um doente acontece,
Cai na cama, o mal lhe cresce,
Baixou, subiu e morreu.
A Câmara (1) não acode? ... Não pode.
Pois não tem todo o poder? ... Não quer.
É que o governo a convence? ... Não vence.
Quem haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre,
Por ver-se mísera e pobre,
Não pode, não quer, não vence.

(1) As Câmaras tinham grande poder no Brasil colonial: arrecadavam impostos, resolviam os problemas das comunidades, mantinham a segurança, estabeleciam relações com os governadores, etc.
*Socrócio: palavra criada pelo autor, indicando roubalheira, rapinagem.*Néscio: ignorante.*Sandeu: idiota.
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